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A comunicação não violenta como prática diária.

Como nos comunicamos conosco e com os outros? Quantas vezes nossas palavras induzem à mágoa e a dor seja para os outros, seja para nós mesmos?

Um relato da bióloga e Interventora Isa Trajtengertz.

Marshall Rosemberg descreveu no seu livro Comunicação Não Violenta – Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais, que a CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros, com honestidade e clareza ao mesmo tempo que damos aos outros uma atenção respeitosa e empática.
Entrei em contato com a CNV já faz cinco anos, fui a uma palestra do Dominic Barter e aquela experiência me tocou profundamente. O que mais me impressionou foi o fato de que a CNV não era uma teoria que deveria ser estudada e absorvida, mas sim uma prática que deveria ser experienciada e pouco a pouco incluída no dia a dia. Como se as práticas de escuta, empatia e do ser compassivo fossem músculos que precisassem ser exercitados diariamente para estar em forma, do mesmo jeito que exercitamos nossos músculos numa academia de ginástica.
Venho praticando a CNV desde então e gostaria de compartilhar com vocês alguns dos aprendizados desse caminho:

  • A primeira coisa que eu aprendi foi que eu escutava não escutando, porque as vozes internas estavam sempre ativas, fazendo com que eu sempre quisesse interromper a conversa para expressar o que essas vozes estavam falando. Eu não estava escutando o interlocutor, eu ouvia a mim mesma. Aprendizado: desligar ou diminuir essas vozes internas ainda é um desafio. O treino faz com que os resultados sejam melhores. No entanto essa ação não pode ser esquecida e trazê-la para o cotidiano, é uma tarefa constante.

  • A segunda lição foi que uma pessoa apoiada pode enfrentar qualquer situação na vida. Demorou bastante para entender o que é estar apoiada. Hoje eu experimento esse apoio, de maneira mais efetiva, em duas redes distintas. Uma composta por três pessoas que não é muita ativa, mas eu sei que a qualquer momento posso acionar essa rede e alguém vai me apoiar naquilo que eu estou necessitando. A outra rede tem até nome, se chama SOMOS e está composta por 15 mulheres que se apoiam ativamente no dia a dia e esse apoio vem de diversas formas: através da escuta empática, troca de saberes, mentorias, troca de serviços, presença física, entre outras possibilidades que vão surgindo de acordo com a necessidade.

  • Dentro dessa rede, aprendi a terceira lição: que quando eu preciso de apoio, é necessário ter clareza do que eu estou necessitando e em cima disso fazer pedidos claros. Os pedidos claros garantem que eu vá receber aquilo que eu estou necessitando. Vou contar alguns exemplos para que fique mais compreensível: Pedido 1 – estou me sentindo muito só e perdida nos meus problemas, alguém poderia me escutar por 20 minutos? Pedido 2 – Estou me sentindo frustrada pois não consigo colocar um projeto que eu gostaria de desenvolver no papel, alguém consegue me apoiar com isso? E assim alguém que acha que pode apoiar, se manifesta e as duas partes combinam como o apoio vai ocorrer. Inclusive podem estabelecer se vai ser através de troca, sem contribuição ou se vai ser estipulado um valor. É importante lembrar que ao realizar o pedido, o NÃO deve ser uma resposta possível, para garantir que seja mesmo um pedido e não uma imposição.

  • A quarta lição se refere à importância de estabelecer acordos claros. Esses acordos garantem as necessidades das duas ou mais partes envolvidas e evitam muitos mal entendidos que podem até gerar situações de ruptura de laços em que cada parte vai para um lado magoada ou ferida.

  • A quinta lição envolve o entendimento de que por trás de cada sentimento que você experimenta, existem necessidades que em geral não estão sendo atendidas. Saber nomear esses sentimentos é um treino constante, principalmente porque o nosso vocabulário “sentimental” é restrito, não aprendemos a falar abertamente sobre nossos sentimentos e a entender o que é aquilo que estamos sentindo. Ao não entender qual é o sentimento, bloqueamos o caminho para encontrar a necessidade e isso impede que possamos fazer um pedido claro. Sem um pedido claro, a chance de sermos atendidos diminui levando a um caminho de frustrações, mágoas e desajustes.

  • A sexta e última lição tem a ver com um processo de apoio interno. De replicar internamente toda a prática realizada nas redes. O tempo todo eu fico tentando definir o que eu estou sentindo, qual necessidade está vinculada a esse sentimento e qual o pedido que eu faço a mim mesma. Na eventualidade de eu não poder atender esse pedido, sempre posso expressá- lo nas redes que eu participo.

Toda essa experiência tem me levado a um caminho profundo de autoconhecimento, tem me tirado da vitimização que era um padrão tão comum na minha vida e contribuído para uma vida mais saudável e plena.
E aí você pode me perguntar: É o paraíso? Não. Ainda tem dias que são difíceis e situações que me superam. A grande diferença é que quando isso acontece, consigo sair mais facilmente e seguir o meu caminho.
Para terminar eu gostaria de te fazer uma pergunta: Como eu posso te apoiar?

Isa Trajtengertz
Bióloga, Interventora Human Code e Conectora.Acredita na Comunicação Não Violenta como formade desenvolvimento das Relações Humanas.

  • Post category:Autoconhecimento
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