Quantas vezes você esteve em um voo e dormiu tranquilo sem saber que o piloto estava no automático? Quantas vezes você é o piloto e vive no modo automático sem pensar nos riscos que corre diante das turbulências dos cenários? Na verdade, nós nos acostumamos com a rotina a ponto de nem perceber o quanto somos paralisados por ela. Mas quando tudo que fazemos acaba sendo sempre igual, algo dá errado. Muito errado. Afinal, vivemos em mundo onde as coisas mudam o tempo todo.
Em algum momento do passado, as lideranças até puderam se dar ao luxo de se acomodarem em rotinas estabelecidas, nas quais todos caminhavam da mesma forma por muito tempo e os resultados aconteciam quase que automaticamente. No contexto atual, esse comportamento não tem mais lugar e lideranças cristalizadas acabam por paralisar os times e os negócios.
O novo ambiente de trabalho pede relações mais fluidas, times colaborativos, pessoas curiosas e criativas. Nele, líderes perdem o espaço de comando e ganham protagonismo nas decisões que conduzem à inovação e à prosperidade.
Muitos já entenderam esse novo rumo das suas carreiras, mas continuam literalmente submersos em rotinas que não se conectam com os imensos desafios desse momento. Então, como sair da paralisia para a ação? Do modo estagnado para o “always on” da vida digital? Como abandonar um lento processo decisório e passar para ações rápidas envolvendo metodologias ágeis e times diversos? Fugindo da rotina, claro.
Ahh… mas a rotina que sufoca também é um ambiente tão confortável, tão conhecido… E sair dele representa tantos desafios que muitos preferem permanecer na mesmice, ou pior: desconhecendo os caminhos para se libertar dela, afundam cada vez mais no buraco onde estão aprisionados.
A grande questão é que esse lugar “confortável” não oferece uma visão abrangente e nem alternativas diversificadas. Quem está nele acaba por se sentir prisioneiro, desmotivado e estagnado. Por fim, profissionais nessa condição, deixam de ser interessantes para as organizações que também precisam encontrar caminhos de crescimento e, então, acabam sem perspectivas de evoluir.
É exatamente nessa hora que uma boa mentoria pode mostrar possibilidades de mudanças que realmente funcionam e abrem janelas de oportunidades onde antes só havia mais do mesmo. Trago algumas ideias que podem funcionar! Teste cada uma e veja como se sente. Se for bom, siga em frente; se não for, mude rápido. Inclusive, essa é uma dica que vale para tudo: abandonar o que não dá certo e tentar de novo até acertar.
Vamos lá:
- Começando pelo óbvio: descanse. O sociólogo Domenico De Masi já fez essa aposta quando escreveu O Ócio Criativo, propondo a união entre trabalho, estudo e lazer, de forma que se possa experimentar o valor gerado pelo trabalho, o conhecimento obtido pelo estudo e a alegria proporcionada pelo lazer. Todas essas esferas se retroalimentam e contribuem entre si para mais satisfação.
Segundo Domenico De Masi, “o ócio criativo é a plenitude do indivíduo integral, na qual se pode conciliar três coisas em nossas atividades: o trabalho, com o qual criamos a riqueza; o estudo, com o qual criamos o aprendizado e adquirimos o conhecimento; e o lazer, com o qual criamos a alegria e o bem-estar.”
Entendo que poucos se dão a esse direito e, tragados pela rotina, quando decidem descansar nem sabem o que fazer. As opções são bem básicas: durma, caminhe, cuide das plantas, pratique algum esporte, tenha um hobby ou simplesmente faça algo de que goste muito, conviva com crianças, elas o ensinarão a brincar.
- Faça um retiro. Pode ser de ioga ou meditação, pode ser um tempo sozinho em um lugar afastado, pode ser um tempo só para você e seus pensamentos no café da esquina. Mas, vamos aprender com quem chegou lá: Bill Gates. Duas vezes por ano ele se afasta de tudo em uma cabana e se dedica a ler e anotar novas ideias, retiro que o próprio Gates chama de “Think Week”. Eu sei que estamos longe dessa condição privilegiada, mas até o jardim da sua casa e/ou um parque da cidade podem ser ótimos lugares de desconexão.
“Embora exercícios, ioga e meditação sejam ótimas soluções para controlar o estresse de todos os dias, não há nada como se desconectar por um longo período de tempo para criar o espaço para decisões importantes e pensamento criativo objetivo. Eu penso nisso como um banho de uma semana. Porque sabemos que no chuveiro temos esses processos de pensamento realmente ótimos, mas esses são flashes e momentos, e quando você sai por um período de tempo sozinho consegue obter resultados mais significativos.” Ellen Faye, treinadora de liderança.
- Reprograme-se a partir de ideação: pense fora da caixa. Conhecida como parte do processo do “design thinking”, a ideação é a fase em que as ideias são apresentadas sem nenhum julgamento, com o objetivo de propor soluções para um problema. Aqui temos a atitude mais ousada para quem se acomodou na rotina paralisante, mas, ao assumir essa postura, estará totalmente inserido nas novas metodologias que impulsionam o sucesso das startups. Entre os muitos recursos utilizados para incentivar e testar novas ideias e soluções, há o “fracasse rapidamente, fracasse com frequência”, que, inclusive, dá nome a um curso muito popular da Universidade de Stanford: “Fail Fast, Fail Freten“.
Os psicólogos e criadores do curso, Ryan Babineaux e John Krumboltz, também são autores de um livro baseado em suas pesquisas sobre desenvolvimento humano e inovação, que mostram como permitir que o entusiasmo guie cada ser humano para agir com ousadia e aproveitar seus pontos fortes, mesmo que tenham medo de falhar. Vale a pena conhecer mais sobre eles!
- Por fim, lembre-se de que você não está só. Peça ajuda. Procure amigos, família, mentores e terapeutas. Converse, descubra um outro olhar para suas dores, novas formas de agir e pensar. Mas também pense em colaborar. Inclusive, essa é uma palavra-chave do mundo do trabalho atual, onde os times atuam de forma colaborativa. Sem dúvida, uma grande mudança de rotina para todos e que pode ser bem assustadora no início, mas que logo apresenta suas valiosas recompensas.
A Inteligência Colaborativa (CQ) vem se destacando como uma moeda forte no mundo do trabalho. Até porque vivemos em um contexto de grandes mudanças, que abarca a maneira como pensamos, interagimos e inovamos na vida pessoal e profissional. Esse tema é abordado no livro Collaborative Intelligence, no qual os autores Dawna Markova e Angie McArthur falam sobre o poder transformador do pensamento colaborativo.
Nas palavras de Dawna Markova e Angie McArthur, “os gerentes que apreciam a diversidade intelectual conduzirão suas equipes à inovação; os funcionários que entendem isso terão sucesso porque estão em contato com seus pontos fortes; e toda uma equipe que a entende se reunirá para dar seu melhor trabalho em uma sinfonia de colaboração, suas forças individuais trabalham em harmonia como uma orquestra ou uma equipe esportiva de alto desempenho.”
Olhando assim, em três tópicos, pode parecer tudo muito simples, mas ao acompanhar em minhas mentorias as dificuldades de muitos processos de mudança, eu compreendo que um passo curto pode representar um salto no abismo para quem se sente paralisado nas rotinas. Afinal, a zona de conforto tem esse nome porque ela é isso mesmo: confortável. Porém, quem já se permitiu vencer a rotina do cotidiano em busca de novas ideias e processos encontrou possibilidades de crescimento inimagináveis no seu contexto anterior. Deixo meu convite: vamos?